A Fé do Ateu

Dizer que o ateu é simplesmente alguém cuja mente não crê na existência de um Deus, seria simplificar demais a questão.

Por Janio Louback

Dizer que o ateu é simplesmente alguém cuja mente não crê na existência de um Deus, seria simplificar demais a questão. Na minha visão, o “porquê” os ateus não crêem em Deus é mais importante. Tanto quanto pude entender, como não sou estudante de ateísmo, classifico os ateus em três tipos:

1) Não crê em Deus porque acha impossível demonstrar por meios científicos ou racionais a sua existência. Essa é uma postura mais “passiva” frente à existência de Deus.

2) Não crê em Deus porque acredita firmemente que a fé em um ser supremo é irracional ou desnecessária, sendo, portanto, uma postura mais “ativa” negando veementemente a existência de Deus.

3) Nega a Deus porque acha incoerente a existência de Deus diante do sofrimento, injustiças, e tudo o que foge do seu ideal filosófico de vida. Acha que se Deus existisse, deveria controlar tudo e todos a fim de permitir acontecimentos somente que fossem bons, no seu conceito.

Na minha experiência, vejo a grande maioria dos que se declaram ateus no terceiro grupo. Por isso, com o objetivo de acompanhar os argumentos relativos ao referido assunto, procure ler também o artigo: “Por que do Sofrimento?”

Procuro chamar a atenção, aqui, para o grande equívoco de pensarmos no ateu como “o que não crê”, mas nos esquecermos de visualizar ou questionar o que “ele deve crer” pois o fato de ele não crer em Deus não significa que ele não crê em nada. Se você não crê em “algo” logo você deve crê em “não-algo”. Essa situação nos induz a indagar, quais são as bases para sustentar a sua veemente negação de Deus. Não crer em Deus não exclui a necessidade de explicar como chegamos aqui. Na verdade, acredito que a maioria de professos ateus se prende tanto à postura de “não crer” que não percebem ou não exploram o fator relevante no qual devem crer para apoiar sua filosofia de pensamento.

Podemos questionar, por exemplo, na postura dos ateus: se Deus não criou o universo nem eu também o criei (sei bem disso) como é que ele está aqui? Sempre existiu? Criou a si mesmo? Apareceu espontaneamente? Tenho que acreditar em algo, certo?

Proponho discorrer um pouco sobre a “fé do Ateu”, isto é , no que ele deveria crer para ser um verdadeiro ateu. Será que não crer em Deus nos exime de dar explicações sobre a origem de tudo? Será que não crer é mais lógico do que crer? Vamos ver:

a) A Fé do ateu em relação à Origem do Universo

Hipótese 1 – O universo é eterno e sempre existiu, sem nenhuma causa ou razão, pois qualquer vontade, causa ou razão poderia ser indício de Deus. Certo ou errado, crer em algo material que sempre existiu não é de forma alguma mais lógico ou racional do que crer em Deus que sempre existiu.

No entanto é impossível imaginar a existência de algo, que está em constante evolução, não ter tido um começo, em virtude de que a eternidade do universo é algo que não se sustenta por uma simples razão: o próprio tempo depende do universo para existir. E também o tempo não pode ser medido sem uma referência do seu discorrer – esse processo acontece pela sequência de eventos, desde o pulsar das partículas básicas, dos átomos e das moléculas. Se o universo se expande de forma acelerada como os cientistas concluíram pelas medições astronômicas, ele vai se findar convertendo-se em um lugar vazio frio e escuro e assim permanecer. Portanto, se o universo tem fim, teve, por conseguinte, um início e o mesmo não pode ser eterno nem no futuro muito menos no passado.

Hipótese 2 – Se o universo teve início no “Big Bang” , de uma fonte “puntual” e imensa de energia que se expande, precisamos saber: De onde vem então essa fonte de energia causadora do “Big Bang”? Duas hipóteses:

. – Essa fonte de energia, causadora do “Big Bang”, estava sempre lá, eternamente, de repente expande sem razão ou causa. Tal raciocínio não encontra embasamento na lógica, pois se estava lá desde a eternidade não poderia ter se modificado, porque estaria preso no poço sem fundo do eterno passado, onde permaneceria inalterado.

. – Essa fonte de energia, causadora do “Big Bang”, apareceu espontaneamente, sem causa nem razão. Como? Que lógica ou explicação tem esse conceito? Por que essa crença teria mais lógica ou racionalidade do que crer na possibilidade de que Deus cuja existência pertence à dimensão espiritual e atemporal gerou o universo espaço-tempo da forma que Ele quis, mesmo considerando a hipótese de o fazer a através do “Big Bang”?

Pergunto, consequentemente , essa “fé” é mais racional? Explica alguma coisa? Engana-se quem achar que negar a Deus provê qualquer racionalidade às questões tão difíceis quanto essas!

Crer numa dimensão espiritual onde Deus existe, onde não há o domínio do tempo e por sua vontade criou o universo espaço-tempo e o fez se desenvolver com inteligência, sabedoria e propósito é menos racional do que a hipótese acima?

Crer que um ser espiritual, superior ao tempo, criou um universo para existir por um período e com um propósito seria menos racional?

b) A necessidade do ateu em relação à demonstração racional ou científica

Teorias científicas não podem ser consideradas fatos até serem demonstradas e comprovadas! Um verdadeiro cientista sabe muito bem disso! Portanto, uma teoria precisa ser considerada apenas uma possibilidade de fato e não o fato em si, até ser inequivocamente comprovada. Existem muitas teorias que caíram ao longo do tempo, outras que tiveram que ser modificadas ou novamente elaboradas com outras bases para se adequarem às medições práticas da ciência.

Observe que, em termos bem simples, a ciência observa os efeitos e procura as causas, mas sem querer decepcionar os amantes da ciência (também o sou) estamos muito longe ainda de saber e comprovar as bases do universo espaço-tempo no qual vivemos. É lógico apresentar a pressuposição: que se existe um efeito, deve existir uma causa. Por exemplo: “se pensamos é porque existimos”, mas por que existimos …? Existimos porque algo ou alguém causou nossa existência!

Existem teorias sobre a origem do universo, mas nenhuma delas foi conclusivamente demonstrada, e nem por isso o universo deixa de existir, nem nós podemos deixar de acreditar no que vemos. Muitas coisas ainda não são compreendidas, e nem por isso deixamos de acreditar em sua existência. Se o ateu acha que não pode ser demonstrada a existência de Deus de forma científica e racional, a mesma dificuldade ainda temos para com o próprio universo, apesar de o vermos não saberemos ao certo como e por que surgiu em termos científicos, portando não deveríamos crer nele não é. Sempre haverá, pois não dá para fujir da questão: a “Causa Primeira”.

A própria ciência não pode explicar totalmente as ondas gravitacionais, porém continuamos a pesquisar porque vemos o seu efeito, e sabemos que tem algo que as produz. Existir qualquer coisa, não é, e nunca vai ser algo racional, pelo menos da forma como entendemos racionalidade ou lógica.

Se não expandirmos as limitações de nossa lógica não acreditaremos nem que nós mesmos existimos!

Olha o que diz a Palavra sobre a ciência:

Ec 3:11 Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a idéia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim.

Por que o universo e tudo que existe, da forma como existe, não pode ser um efeito, uma evidência de Deus? Seria isso menos racional?

c) A fé “implícita” do ateu em relação ao propósito e razão de tudo

Ora, se não existe Deus, não podemos pensar que por sua vontade e propósito Ele criou o universo, portanto, com certeza, não pode haver nenhuma razão pela qual o universo existe, e com certeza não pode haver nenhuma razão para nós existirmos. Tudo o que somos e o que fazemos, se vivemos, se morremos, se sentimos, se esperamos, se amanhã a terra for destruída pelo impacto de um asteróide, etc…., tudo isso não apresenta razão nem propósito nenhum. Esse argumento pode parecer irracional, sentimental ou mesmo religioso, mas seja como for, então, por que o universo produziu o conceito de “propósito”, “razão” que tanto procuramos?

Porventura não poderia existir uma outra forma de inteligência em nós, que nos leva a buscar coisas além da simples e limitada racionalidade?

“Vamos concluir então nessa fé do ateu:

– O “nada” criou “tudo”.

– O caos criou ordem e harmonia contrariando a lei da entropia.

– O irracional – que não pensa, não sente, nem sabe porque existe ou mesmo se existe, nem busca coisa alguma – criou um ser pensante e racional que busca incessantemente a razão de sua existência.

– Tudo começou e vai terminar sem nenhum propósito ou razão.”

Vamos concluir então nessa fé do ateu:

– O “nada” criou “tudo”.

– O caos criou ordem e harmonia contrariando a lei da entropia.

– O irracional – que não pensa, não sente, nem sabe porque existe ou mesmo se existe, nem busca coisa alguma – criou um ser pensante e racional que busca incessantemente a razão de sua existência.

– Tudo começou e vai terminar sem nenhum propósito ou razão.

Lembre-se de que isso não exclui o fato de desenvolverem suas filosofias de vida ou até de criarem propósitos para elas, no entanto estamos falando aqui de um propósito maior que levou todas as coisas à existência. Se não há uma razão, por que dentro de nós permanece uma busca incessante da mesma? Por que não somos apenas máquinas complexas sem necessidade da razão?

Minha conclusão leva ao seguinte :

Não crer em Deus, não é de forma alguma uma questão de racionalidade, pois nos depararemos também com equações irresolúveis!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

três × quatro =

error: Ask fo permission !!